O “Faruk”. Pequena homenagem!
Não quero terminar esta “viagem” ao passado da 10ª Repartição da AGPL, sem
referir um episódio, relacionado com uma das unidades referidas atrás e que,
embora triste, não a esqueço.
Foi o caso de que, nos anos 50, a draga “Engenheiro Matos” tinha, na sua
tripulação, um tripulante “extra”. O “Faruk”!
Aproveito para dizer que em muitas oficinas era normal haverem animais de
estimação. Faziam parte do “pessoal”. Na Oficina de Serralharia da 10ª
Repartição da AGPL havia uma cadela, a “Preta”, já velhota e, pasme-se, até
havia uma ratazana e seus rebentos que se alimentavam dos restos do almoço de
alguns operários e passeavam nas asnas do telhado da oficina, até ao dia em que
houve uma acção de desratização.
“Faruk”, rei do Egipto até ser deposto em 1952, era um nome muito falado
naquele tempo e, talvez por isso, coube em sorte a um cão que se tornou mascote
da draga.
Era um cão de grande porte (talvez um rafeiro alentejano!) e tornou-se não
só a mascote da draga como de todo o pessoal da 10ª Repartição.
No Verão, depois das 5 da tarde, o pessoal operário se lhe apetecia
refrescar-se ou aprender a dar umas braçadas, mergulhava ali mesmo, junto ao
cais. Mas, se a draga estava por perto, era ver o “Faruk” atirar-se à água,
ladrando até que todos saíssem da mesma, zelando pela sua segurança, qual
nadador salvador!
E os dias iam passando sempre com aventuras do “Faruk”, até que um dia a
vida foi-lhe madrasta e o destino quis que ninguém o pudesse socorrer, quando
ele tantos tinha socorrido.
A draga, estando ali a trabalhar, encostou ao cais de Cacilhas e o “Faruk”
entendeu, por bem, dar uma saltadinha a terra, para distrair um pouco. A
distração foi tal que, talvez tenha encontrado alguém com quem “conversar”, o
tempo foi passando e o regresso à draga tardou. E tardou tanto que, embora o
pessoal em aflição, a draga teve que regressar a Lisboa. Faltava um
“tripulante”, mas havia a esperança de que o “Faruk” arranjasse onde passar a
noite e no dia seguinte lá estariam de novo. Mas não. Tardiamente, o “Faruk”
apercebeu-se de que a draga tinha saído e ao vê-la no meio do rio, atirou-se à
água na esperança de alcançá-la. Em vão, a corrente era forte e o rio que ele
conhecia tão bem, chamou-lhe seu e ficou, para sempre, com ele!
E, se os animais têm alma, paz à sua alma e a minha recordação!
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