terça-feira, 29 de setembro de 2015

memórias cuf

1)     2 Lugres bacalhoeiros:

“CREOULA” e “SANTA MARIA MANUELA”

Em construção, os dois irmãos, lado a lado.
"CREOULA", à esquerda, na carreira nº 2
e "SANTA MARIA MANUELA", à direita, na carreira nº 1

O "CREOULA", preparado para seguir o irmão! (10/05/1937)
Relativamente à cerimónia do “bota fora”, destas duas embarcações, não resisto à transcrição dum texto de Luis Miguel Correia, no dia 10/05/2011,
em http://lmc-creoula.blogspot.pt

 “A segunda-feira, 10 de Maio de 1937, foi dia de festa na Rocha do Conde de Óbidos, mais precisamente nas instalações do estaleiro naval da Administração-Geral do Porto de Lisboa, então concessionado à Companhia União Fabril.
Aproveitando a preia-mar, pouco depois das 16 horas, nesse dia foi lançado ao Tejo o lugre CREOULA, acabado de construir para a Parceria Geral de Pescarias e destinado à pesca do bacalhau. 
Uma depressão na Biscaia condicionou o estado do tempo nessa tarde, num dia com algum vento, instabilidade e chuviscos. Tal não obstou à realização de uma grande festa, pois além do nosso CREOULA procedeu-se ainda ao lançamento do seu gémeo SANTA MARIA MANUELA. 

O "SANTA MARIA MANUELA", na carreira nº 1,
perante a ansiedade dos presentes, aguarda a entrada nas calmas águas do rio Tejo!
Um dos privilégios de me dedicar à história dos navios é poder viajar no tempo, pelo que estive lá. Logo pela manhã ultimaram-se os trabalhos decorativos para a cerimónia do lançamento dos navios. Quando pouco depois das 15H30 começaram a chegar ao estaleiro as entidades oficiais convidadas, já lá se encontrava uma grande multidão, com destaque para as centenas de operários do estaleiro.
Uma companhia de Marinha, do Navio-escola SAGRES, com a respectiva banda, prestava a guarda de honra. O Chefe do Estado, General Óscar Fragoso Carmona presidiu ao lançamento do CREOULA, tendo-se registado o cerimonial de uso em tais actos.

Não garanto que a foto se refira a esta cerimónia de lançamento, pois é identificada como sendo de 1941.
Como não encontro nenhum lançamento nesse ano e só no ano de 1946 aparece a presença do
Presidente da República no lançamento do "António Carlos", na carreira nº 1, optei por colocá-la aqui!
O navio deslizou suavemente a carreira, levando a bordo engenheiros, contramestres e operários e foi depois rebocado enquanto um hídro-avião da Aviação Naval executava impressionantes evoluções, a banda da SAGRES tocava, as sereias dos navios em porto apitavam e a multidão se manifestava com entusiásticos vivas. O CREOULA entrou no Tejo com a maior felicidade. 
Durante a construção dos dois CREOULAS trabalhou-se no estaleiro dia e noite tendo participado nos trabalhos 540 técnicos e operários. Segundo Alfredo da Silva, responsável máximo da Companhia União Fabril e anfitrião por ocasião do lançamento do CREOULA, "o navio foi construído com uma perfeição de acabamento como não se faz já hoje (em 1937, claro) no estrangeiro, onde se quer principalmente produzir depressa e barato." Passados 74 anos o CREOULA navega orgulhosamente ao largo de Sesimbra, confirmando Alfredo da Silva...”

Mais apressado, 15 minutos antes, já o “SANTA MARIA MANUELA” tinha descido a carreira e baloiçava o seu casco nas águas do Tejo.

E, no dia 30 de Junho de 1937, após a bênção da frota bacalhoeira, o “CREOULA” e o “SANTA MARIA MANUELA” e alguns mais, partiam rumo à Terra Nova e Groenlândia!

O "CREOULA"
(Revista Lisnave nº 1, Janeiro 1966)
Como embarcações gémeas, as suas características principais são quase idênticas.

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS:
Armador : Parceria Geral de Pescarias / Empresa de Pesca de Viana, Viana do Cast. ( * )
Assentamento da quilha: 03/02/1937
Lançamento: 10/05/1937
Entrega: Junho de 1937
Construção: nº 32 e nº 33 ( * )
Comprimento fora a fora: 67,365 m / 62,830 m ( * )
Comprimento entre pp : 52,765 m
Boca : 9,90 m
Pontal : 5,94 m
Calado : 4,15 m
Aguada : 120 ton
Deslocamento máx.: 1055 ton
Deslocamento leve: 818 ton
Potência: 480 BHP
Velocidade máx.: 6 nós

( * ) Estas anotações, referem-se ao “SANTA MARIA MANUELA”

Ambos foram construídos em chapa de aço, destinada à construção de dois navios de guerra que por algum motivo não chegaram a ser construídos (terá sido porque o dinheiro, como de costume, era escasso ou, porque o Estado Novo ainda tinha bem presente que um dos navios, de construção bem recente, o “Dão”, esteve “metido” na “Revolta dos Marinheiros” e não havia que dar “armas” ao “inimigo”?).
Na foto, na carreira nº 1, o que terá sido a construção de um dos contratorpedeiros
Efectivamente havia relativamente pouco tempo (entre 1932 e 1935) que ali mesmo, naquelas carreiras, haviam sido construídos os contratorpedeiros, "Tejo", "Dão" e "Douro".

O "SANTA MARIA MANUELA", dir-se-ia que mudou de nome à vista da “pia baptismal”! Estava-lhe destinado o nome de “ARGUS” mas, ainda na carreira de construção, mudou de pai, foi cedido à Empresa de Pesca de Viana, Viana do Castelo, que entendeu por bem mudar-lhe o nome para “SANTA MARIA MANUELA”. Questão de devoção? Ninguém sabe! Porém, parece ter sido por iniciativa de Vasco Albuquerque d'Orey, que o baptizou com o nome da sua esposa, Maria Manuela.

 

 A partir daqui, as construções vão-se sucedendo: 18 unidades de 1937 a 1941; 10 unidades de 1942 a 1946; 17 unidades de 1947 a 1951; 26 unidades de 1952 a 1956; 33 unidades de 1957 a 1961 e 19 unidades de 1962 a 1966.


Entretanto o Estaleiro atravessou períodos críticos, tais foram as várias carências, de materiais e equipamentos, devidas à 2ª Guerra Mundial, bem como surtos grevistas, o mais importante dos quais teve lugar de 26 a 29 de Agosto de 1943, greve de braços caídos que alastrou da Caldeiraria e Fundição a todo o Estaleiro, paralisando-o. Após muitas prisões, alguns reocuparam os seus locais de trabalho mas outros continuaram presos, foram deportados e outros ainda, mortos. Só depois de terminar a Guerra, os trabalhadores obtiveram aumentos de salário e reforço de ração de pão.
Outra importante greve, ocorreria nos dias 12 e 13 de Novembro de 1969.
Das greves, após o 25 de Abril de 1974, não irei falar pois ainda me estão frescas na memória e não me deixariam elaborar um texto de modo a não molestar ninguém e o que me levou a escrever o presente documento foi apenas e só o desejo de que a memória dos homens não seja fraca e relembre os sacrifícios e as obras do passado!

(continua)

 

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