quinta-feira, 17 de julho de 2014

A vida em Salvaterra ( 5 ) - Mezinhas e curandices !


Informação aos leitores mais sensíveis:
Este "post" contém matéria que, embora verdadeira, poderá repugnar a quem a ler! Aqui fico o aviso!

( retirado de lavioletera.com.br)

Práticas Etnomedicinais (Medicina popular). Mezinhas e curandices

Baseados na obra de Jaime Lopes Dias, Etnografia da Beira, podemos tomar conhecimento de algumas práticas etnomedicinais, vulgo medicina popular. Enunciamos as doenças e as curas que, embora podendo variar de terra para terra, mantêm dum modo geral os seus princípios. Assim, em Idanha-a-Nova, o tresorelho cura-se com enxúrdia de galinha e para curar impingens esfregam-se estas com um dedo molhado em saliva; em Vale do Lobo (Penamacor), a furunculose cura-se com sopas de cobra e as feridas curam-se colocando sobre elas teias de aranha; em Teixoso (Covilhã), cura-se a loucura colocando sobre a cabeça do louco, em forma de capacete, um cachorro ou cão pequeno, aberto ao meio, de modo a que o sangue escorra pelo rosto; no Ladoeiro (Idanha-a-Nova), cura-se a icterícia, por muito crónica que seja, com um cozimento de piolhos da cabeça humana, enquanto em Idanha-a-Nova, para o mesmo efeito usam deitar os piolhos vivos dentro de um ovo bebendo-o em seguida; em Segura (Idanha-a-Nova) para que os tumores ou abcessos venham à supuração aplica-se-lhes um emplastro de excremento humano; ainda em Idanha-a-Nova, as feridas curam-se urinando-lhes em cima e a febre desaparece bebendo urina; em Benquerença (Penamacor), no dia em que dão as maleitas, chá feito com urina de rapariga virgem, posto à geada e bebido nesse dia, cura-as; no Ladoeiro (Idanha-a-Nova), as enxaquecas e as cefaleias curam-se com o sarro do fundo dos penicos pouco limpos, colocando em panos, sobre a testa do paciente.
O uso de excrementos e urina não é tão invulgar assim, sendo referenciado já na Antiguidade. E embora sejam práticas ancestrais e caindo em desuso, no séc. XVIII há alguém que crê que a urina do mancebo sem barba é útil aos estigmáticos, cura a sarna, resolve os tumores e impede a gangrena. A do homem casado, quando bebida pela mulher, facilita o parto e actua contra a mordedura de cobra. Quanto ao uso dos excrementos sólidos, diz que o esterco é de grande uso para tirar as dores de encanto, para madurar os antrazes pestilentos e para curar a angina. O esterco de menino lactante, reduzido a pó, erradica a epilepsia muitos dias. A água do esterco humano cura as unhas dos olhos, e todos os vícios da tonisa adnata, lançando neles umas gotas, aviva as cores do rosto, produz cabelos, cura as chagas corrosivas e as fístulas, desfaz os sinais das cicatrizes. Interiormente tomado acode à epilepsia e hidropsia, expulsa as pedras dos rins, a tinha, a erisipela exulcerada e os alfectos cutâneos untando a parte, mitiga as dores da gota, mortifica o cancro e cura a icterícia.
Já bem no 2º quartel do século XX assinala-se um caso de utilização de excrementos de vaca, para fins curativos. Tal prática teve lugar em Oledo (Idanha-a-Nova) e o relato é o que segue. Uma menina de dois anos de idade estava sentada de costas para a lareira, fez balanço com o banco e caiu de costas no lume. Levantou-se a chorar mas já com as nádegas assadas e com as brasas agarradas ao rabinho. Era domingo, não havia médico e a farmácia não era perto, perante o choro da criança e desespero da mãe, uma velhota alvitrou que se lhe pusesse bosta de vaca em cima da queimadura e quanto mais depressa melhor. A mãe, desesperada, não pensou duas vezes. Foi buscar a bosta que envolveu numa fralda quente e colocou no rabinho. A criança chorou mas depois sossegou e adormeceu. Regressou o marido, da farmácia, com uma pomada mas já não foi utilizada. No dia seguinte, foi ao médico, explicou o tratamento que tinha feito e o médico disse-lhe para continuar a fazer o mesmo, cuidando sempre de alguma higiene. Passado pouco tempo estava boa e sem cicatrizes.
Em Salvaterra do Extremo práticas normais, eram em pleno séc. XX e talvez ainda sejam, algumas que a seguir se enunciam.
Para curar feridas (estancar o sangue), usava-se raspa do chapéu de homem, cinza de cigarro ou do borralho e açúcar, além das teias de aranha.
Para a dor de barriga e prisão de ventre, azeite onde se fritaram alhos, ainda com alguma quentura e espalhado, na barriga, com a mão.
Para a prisão de ventre, um talo de couve untado com azeite, utilizado qual supositório.
Para baixar a febre, um pano com vinagre, na testa e nos pulsos.

O uso de plantas na alimentação, como condimento, e no tratamento de doenças, também em Salvaterra era comum e nos seus campos elas abundam.
Seguidamente se enumeram algumas delas:

Hortelã brava, ou mentrasto ( Mentha maveolus Ehrh.)
Pertence à família das labíadas. Usa-se em culinária e em medicamentos caseiros. Devido ao mentol que possui, é um bom desinfectante das vias respiratórias. A cultura faz-se de Abril a Outubro.

Poejo (Menthapulegium L.)
Pertence à família das labíadas. Usa-se em culinária e em medicamentos caseiros. É um condimento (o gaspacho não o dispensa), um tónico digestivo e emenagogo e emprega-se em saboaria. A cultura faz-se de Maio a Agosto.
(retirado de .http://auren.blogs.sapo.pt)

Urtigão, ou urtiga-maior (Urtiga dioica L)
Pertence à família das urticáceas. Planta muito acreditada como revulsivo e anti-reumatismal de uso externo. Colhem-se as folhas no Verão.
(retirado de www.plantasquecuram.com.br)
Amor perfeito bravo (Viola arvensis Murray)
Pertence à família das violáceas. É empregado com peitoral, expectorante, emoliente, béquico e diaforético. Serve para doenças da pele, prisão de ventre e reumatismo. Desenvolve-se de Março a Junho.
(retirado de www.obotanicoaprendiznaterradosespantos.blogspot.pt)
Coentrinho (Geranium dissectum L.)
Pertence à família das geraniáceas. Como infusão forte, serve para gargarejos e como infusão fraca, tem utilização no caso de cistite, catarro pulmonar crónico e enterite crónica. Desenvolve-se de Março a Julho.

Orégão (Origanum vulgare L.)
Pertence à família das labíadas. Usa-se como condimento e como terapêutico (excitante carminativo e vulvenário). Colhe-se em Junho e Julho quando a planta se encontra florida. Das folhas secas, pode fazer-se chá. Utilizado para aplicações de uso externo, contra o reumatismo e de uso interno, no tratamento da tosse, da asma, digestões difíceis e anemias.

(Nota: As gravuras, onde não indicado, foram retiradas da wikipédia.)

Bibliografia:

Maria João Guardado Moreira, in Medicina na Beira Interior da Pré-História até ao Séc. XX, Cadernos de Cultura, vol. 7, Nov.1993


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