segunda-feira, 18 de março de 2013

Salvaterra ... no Romanceiro Português ( 6 )


Para encerrar este ciclo de “posts”, apresentando alguns romances medievais na versão de Salvaterra do Extremo, aqui fica mais um, tal como os anteriores, inserto no ROMANCEIRO PORTUGUÊS DA TRADIÇÃO ORAL MODERNA, vol. II, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Por fim, resta-me esperar que tenham sido do agrado de quem os tenha lido! 




Conde Alarcos


    
Vindo a dona Silvana    pelo corredor acima,
  2  
tocando numa viola,    muito bem a retinia.
    
Acordou seu pai na cama    pelo motim que fazia.
  4  
--O que é isso, ó Silvana?    O que é isso, ó minha filha?
    
--De três irmãs que nós éramos,    estão casadas, têm família,
  6  
eu, por ser a mais bonita,    porque razão ficaria?
    
--Já não há gente nas cortes    igual à tua valia.
  8  
--`Inda está o conde d` Elvas.    --Está casado, tem família.
    
--Mande-o chamar, meu pai,    da sua parte e da minha.
    
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  10  
`Inda agora vim das cortes    já me mandaram chamar!
    
Não sei se será por meu bem    nem se será por meu mal.
    
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  12  
--Quero que mates a condessa    p`ra casares co` a minha filha.
    
--Como hei de eu matar condessa    se ela a morte não merecia?
  14  
--Mata conde, mata conde,    não procures demasia.
    
Quero que me tragas a cabeça    nesta dourada bacia.--
    
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  16  
Foi o conde para casa    todo cheio de agonia.
    
Foram-lhe a pôr de jantar    nem um nem outro comia,
  18  
as lágrimas eram tantas    que até os pratos enchia.
    
--Conta conde, conta conde,    conta-me a tua agonia!
  20  
--Se eu te contara, condessa,    de repente morrerias.
    
Manda el-rei que te mate    p`ra casar co` a sua filha.
  22  
Não me mates com navalhas,    nem com espada luzidia,
    
mata-me com uma toalha,    na minha casa as havia.
  24  
Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha.
    
Adeus, criadas e criados,    a quem eu tanto queria!
  26  
Deixa-me dar um passeio    da sala para o jardim.
    
Adeus cravos, adeus rosas    que tanto chorais por mim!
  28  
Anda cá, filho mais velho,    que te quero ensinar,
    
amanhã tendes mãe nova,    como lhe haveis de chamar.
  30  
De joelhinho em terra,    com o chapeuzinho no ar.
    
Anda cá, filho do meio,    que te quero ensinar,
  32  
amanhã tendes mãe nova,    como lhe haveis de chamar.
    
De joelhinho em terra    com o chapeuzinho no ar.
  34  
Mama filho, mama filho,    este leite de paixão,
    
amanhã por estas horas    está tua mãe no caixão.
  36  
Mama filho, mama filho,    este leite de amargura,
    
amanhã por estas horas    está tua mãe na sepultura.--
    
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  38  
Já tocam os sinos das Côrtes!    Ai Jesus! Quem morreria?
    
Morreu a dona Silvana    pelas traições que fazia,
  40  
desapartar os bens casados    coisa que Deus não queria.



Nota do editor de Romanceiro Português TOM 2001:

Omitimos as seguintes didascálias: entre -3 e -4; -6 e -7; -8a e -8b.; -11 e -12; -13 e -14 Rei; entre -4 e 5, -7 e -8, -8 e -9 dona Silvana; entre -9 e -10; -12 e -13; -19 e -20 Conde; entre -18 e -19; -21 e -22 Condessa.


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