sábado, 12 de março de 2011

De quando o mouro intentou a tomada de Sariuta…situada num cabeço de elevado monte, que sobe até se igualar às nuvens ...

Remexendo no “baú” da História de Portugal, aqui deixo para conhecimento das gentes de Salvaterra, e de todos quantos isto lerem, factos pouco divulgados da história tão rica, desta terra! Trata-se de quando Salvaterra passou para mãos mouriscas. A primeira e única vez em que tal aconteceu.


Decorria o ano de 607 da Hégira (1211) quando Mohamed II, 5º Rei da dinastia dos Almóadas, conhecido por Annasser, Príncipe dos Crentes, um dos 14 filhos de Almansor, e aclamado no dia 22 do mês de Rabi al-Awwal do ano 595 da Hégira (21 de Janeiro de 1199) após o falecimento de seu pai, sabedor das derrotas que, na Hispânia, Afonso VIII, de Castela, estava a infligir aos maometanos, partiu da cidade de Marrocos (Marraquexe) com os seus exércitos em direcção a Alcácer Seguer.
Ai chegado, deu início ao embarque de tropas, meios de transporte, apetrechos de guerra e mantimentos. Esta operação, de grande envergadura, durou desde o dia 1 do mês de Shawwal (17 de Março) até quase ao fim do mês seguinte, de Dhu al-Qidah do ano 607 aportando a Tarifa no dia 25 desse mesmo mês (9 de Maio de 1211). Três dias depois de ser recebido pelos alcaides de Hespanha, partiu para Sevilha, onde chegou no dia 17 do mês seguinte (31 de Maio de 1211) à frente do seu exército. Que, de tão numeroso, dividiu em cinco, pois, só voluntários, eram 160 mil.
Tal facto pôs em grande inquietação todos os países cristãos, tratando uns de se defender e outros de pedir-lhe paz.
Annasser saiu de Sevilha, em direcção a Castela e foi então que, ao passar pelo castelo de Sariuta (para os cristãos, Salvaterra, a “Princesa do Erges”), o qual no seu dizer “era grande, situado sobre um cabeço de elevado monte, que sobe até se igualar às nuvens e não há para subir a ele senão um estreito e escabroso caminho”, obedecendo ao que os seus conselheiros lhe propunham, dizendo-lhe que não passasse à frente sem que primeiro tomasse fortaleza tão inexpugnável, se resolveu a sitiá-lo. Assestou contra ele 40 catapultas e atemorizou todos os povos vizinhos. Porém, passados 8 meses de sítio, nada tinha conseguido. As provisões que acabavam, tal como as forragens para os cavalos e a chegada do Inverno iam tornando difícil a empresa. Entretanto, ao chegar notícia deste ataque do infiel e desejoso de vingança, Afonso VIII de Castela, o “Bom” ou “Nobre”, juntou outros Reis Cristãos e foi atacar Calatrava (Calatrava, a Velha, nas margens do Guadiana), então nas mãos dos mouros. Esta praça capitulou porque o seu governador esperava auxílio de Annasser, que estava no cerco a Salvaterra, mas tal auxílio devido a um desencontro de ordens nunca chegou e quando o governador de Calatrava, depois da capitulação, foi apresentar-se a Annasser, este, por estar mal informado, mandou matá-lo.
Mas, Annasser persistiu na conquista de Salvaterra e esta acabou por capitular no último dia do mês Dhu al-Hija do ano de 608 (1 de Junho de 1212).

Assim que Afonso VIII teve disso conhecimento, juntou os outros soberanos (Sancho VII, de Navarra; Pedro II, de Aragão; D. Afonso II, de Portugal; cavaleiros de Leão e das Ordens de Santiago, Calatrava, Templários e Hospitalários) e os seus exércitos e partiu ao encontro de Annasser que, por sua vez, resolveu igualmente apressar a peleja e ir ao seu encontro. Tal facto teve como consequência encontrarem-se os exércitos em Alaacab, ou Las Navas (Navas de Tolosa) no dia 16 de Julho de 1212. Foi então aqui que a cristandade infligiu pesada derrota ao infiel e se iniciou o que havia de ser o fim do domínio muçulmano na Península Hispânica.

Tanto tempo levou a tomada de Salvaterra que se dizia que “tiveram as andorinhas tempo de fazer os ninhos, pôr os ovos, terem as crias e pô-las a voar”.
Do que aqui ficou escrito se pode ver a importância que teve a queda de Salvaterra, como ponto de partida para o que seria o fim do domínio árabe. Mas, igualmente parece concluir-se que seria Salvaterra uma fortaleza quase “inexpugnável”, uma vez que após a sua capitulação, os mouros a retiveram ainda por 14 anos, até 1226, data em que foi tomada por D. Sancho II, com a ajuda dos cavaleiros Templários. Se atendermos a que os territórios vizinhos estavam em mãos cristãs, de Castela ou de Portugal, podemos imaginar como seria difícil a sua conquista!

Também parece cair pela base a ideia de que D. Afonso Henriques teria estado em Salvaterra. Em 1212, ao tempo da queda de Salvaterra, esta estava na posse de Afonso VIII, de Castela e, tudo indica, à guarda da Ordem dos Templários, uma vez que já em 1150, Afonso VII tinha doado a esta Ordem os seus domínios e à Ordem de Calatrava, o castelo de Calatrava, a Velha.
O Afonso, pelos vistos, era outro!

(A conversão de datas do calendário muçulmano para o calendário Juliano, poderão ser só aproximadas e a data de aclamação de Annasser é a que se supõe ser a correcta, uma vez que há várias “gralhas” tipográficas na documentação consultada.
A imagem inferior (Batalha de Navas de Tolosa) é de um quadro de Van Halen, do Palácio do Senado, em Madrid e foi retirada da internet)

4 comentários:

  1. João , bem .haja pela bela lição de História da sua terra mas também do nosso concelho . Por ela de mostra como ,à época éramos importantes para a Nação...
    "vesitas "

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  2. Um belo trabalho de investigação histórica. Gosto muito de História e gostei de conhecer estes factos relacionados com a sua terra.
    Beijinhos
    Lourdes

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  3. Olá, Quina!
    Não tem que agradecer. Eu não dou lições de História. Contento-me em recebê-las e deleitar-me com tudo o que vou apreendendo e descobrindo acerca da minha terra que, como muitas outras, tão desprezada tem sido. A ponto de os próprios naturais desconhecerem os seus antepassados e sentirem ter nascido num mero lugarejo, sem desprimor para qualquer lugarejo. Éramos importantes para a Nação, embora pareça que a Nação não se importa muito com isso. O facto é que, por aquilo que me é dado a perceber, Salvaterra vive mais os acontecimentos do outro lado da fronteira do que os dos seus vizinhos e compatriotas. As guerras, eram mais entre países do entre os povos.
    Eu, cá vou continuando a remexer no passado...
    Abraço,
    João Celorico

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  4. Olá, Lourdes!
    Eu também gosto de História. Sempre gostei e, hoje em dia, ainda me valho de muito do que aprendi na 4ª classe! Isto é um misto de investigação e de "bisbilhotice" mas que me dá muito gosto fazer. Principalmente, graças à santa Internet, consegue-se chegar a muita informação a que não tinhamos acesso. No entanto há que ter todo o cuidado com essa informação e eu prezo-me de fazer o cruzamento de várias fontes, caso contrário o disparate é certo. Mesmo assim, não posso dizer que é 100% fidedigno.
    Como informei no início do meu blogue, ele foi criado, principalmente, para dar a conhecer muito do que é desconhecido acerca da minha terra. É isso que vou tentando fazer. Se o for conseguido, o objectivo está alcançado...
    Abraço,
    João Celorico

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