domingo, 27 de fevereiro de 2011

Eu e… as primeiras letras”!( 3 ) Os professores (parte II)

No dia 7 de Outubro (sábado e primeiro dia de aulas), fui à escola e, nesse mesmo dia a minha mãe, à tarde foi falar com o professor Lemos para tratar da minha transferência para Lisboa. No regresso a casa, atalho abaixo, tivemos o acompanhamento do professor e, ali, fizemos as despedidas!
Na segunda-feira, dia 9, apresentei-me, em Lisboa, na Escola Primária nº 8.
Era só atravessar a rua. Longe ficavam os tempos do atalho!
A professora era a D. Maria (Maria de Jesus Santos), senhora já duma certa idade mas que se impunha e de que maneira. Vi a notícia do falecimento dela, anos mais tarde, cerca de 1967 ou 1968, quando estava a estudar num café, em Algés. Suponho que o jornal era “A Capital” e julgo que teria morrido em casa, na rua dos Cordoeiros, na Bica, sozinha (o que até parece bem actual). A vizinhança descobriu e veio a verificar-se que teria muito “papel” (acções e obrigações) que lhe teria deixado o marido mas que, infelizmente, não as soube aproveitar.
Conheci novos amigos e o mais importante foi no fim da aula trazer uma lista enorme, para aqueles tempos, mencionando todo o material de que necessitava para a 4ª classe. Faço ideia a dor de cabeça que provoquei aos meus pais. Eram livros, cadernos, esquadros, régua e até um duplo-decímetro!

Seríamos, então, 22 (vinte e dois) alunos. Iam-se escolhendo os colegas de carteira e calhou-me ficar com o Bastos. Provinciano também, serviu-me de apoio na integração dos primeiros tempos que, apesar de tudo, foi bem fácil
Inicialmente tive grandes problemas no Desenho, coisa que eu nunca tinha feito na minha curta vida escolar.
Mas então que dizer das Ciências, com todos aqueles nomes do corpo humano, das folhas das plantas, etc.? E da Geografia, que começava logo pelos sistemas de orientação, sendo que eu cada vez estava mais desorientado?
Ora foi por causa da Geografia, mais propriamente por causa das produções das ilhas e das províncias ultramarinas, das quais eu pouco mais fixava que os chapéus de palha dos Açores e o coconote que eu espalhava por tudo quanto me perguntassem. Assim, num dia azarado, ao serem-me perguntadas as produções duma qualquer província ultramarina, aí me saí eu com qualquer coisa e mais o coconote. Atrás deste disparate vieram então as 11 reguadas, únicas na 4ª classe, e que não mais me esqueceram.

Na Aritmética não havia problemas e bastas vezes fui posto a verificar os cadernos de problemas do resto da classe.
Na História, que era o que eu mais gostava, os problemas eram pouco menos que nenhuns e posso dizer que usei esses conhecimentos durante a escola secundária e ainda hoje me socorro de algumas coisa que aprendi na 4ª classe.
Na Gramática a coisa não corria mal, mas a caligrafia era o meu problema, uma vez que eu tentava imitar aquilo que algum colega meu fazia e me diziam ser boa letra.

Uns faziam letra para a direita, outros para a esquerda e outros ainda, letra direita. Pois bem, quando eu assim fazia estava sempre mal. Eu não conseguia manter a letra sempre para o mesmo lado. Grande parte do problema também se devia às malvadas canetas de aparo que além de não ajudarem ainda faziam pregar alguns borrões no papel o que me desagradava e enervava de que maneira. Assim, um belo dia, resolvi fazer uma redacção com uma caneta de tinta permanente que eu já tinha há alguns anos, uma Waterman’s (oferecida por uma senhora chinesa, no Algueirão). Pois não é que a professora não acreditou que tivesse sido eu a escrever tal coisa e até pediu para o meu pai lá ir falar com ela? O meu pai não foi mas eu comprometi-me a levar a caneta e a escrever à frente dela e o caso ficou assim.

O problema da letra era de tal ordem que ao escolher os alunos para gerir a Caixa Escolar, eu fui passado de Secretário (porque tinha que escrever) para Tesoureiro. O Secretário era então o Machado. O que é que nós alguma vez fizemos, ainda estou para saber!
Recordo-me de um dia, talvez um sábado, ter-mos Canto Coral. Escusado será dizer que eu nada sabia, mas lembro-me de que uma das cantigas começava assim “ A oeste da Europa, num cantinho do ocidente... e mais nada. Talvez também nesse dia tenhamos ido brincar para um pátio interior. Só me lembro de lá ter estado uma vez.

As vacinas! Esse, sim, um dos maiores problemas, pois cada vez que se deslocavam à Escola para vacinação, lá estava sempre o João porque, exceptuando a vacina para entrar para a escola (tomada na Rua das Francesinhas), nunca até aí eu tinha tomado mais nenhuma. No Algueirão não se usavam esses luxos!
Assim, de vez em quando, lá andava eu com o pescoço preso, se era dada na omoplata (um líquido azul, que doía que se fartava) ou com o ombro inchado, se era dada no braço. Valia-nos um enfermeiro que começava a conversar connosco e quando dávamos por ela já estava a agulha espetada.

Apesar de tudo, a 4ª classe correu bem, a professora (arriscando) deixou-me ir à escola ainda uns dias antes de terminar o tempo de quarentena (devido ao meu problema de tosse convulsa), mas manteve-me quase sempre sozinho numa das últimas carteiras da sala. O exame final foi feito na Escola nº 2, na Rua das Gaivotas. Assim, no dia 20 de Julho, eu ia com mais medo que me desse um ataque de tosse convulsa do que do próprio exame. Quanto ao exame, o meu maior receio era a parte do desenho mas, como pediam para fazer um copo com asa, a dificuldade era relativa. Recordo que acabei o exame e aguardei cá fora o resultado. A minha mãe foi ter comigo, mais para saber como a minha tosse se tinha comportado. No caminho ao perguntar-me qual tinha sido o resultado respondi com despreendimento, “levei uma Distinção”. O meu pensamento dirigia-se já para o exame de admissão que eu não tinha ainda a certeza de que os meus pais me pudessem facultar. A vida não era fácil e já se procurava um emprego para o rapaz. Entre outros, estava em vista um emprego de estafeta para um ourives (suponho que num 4º andar, ali na Baixa).

2 comentários:

  1. Olá amigo João,
    O que vai para aqui de boas memórias. Belos tempos, que com o passar dos anos, se sente cada vez mais saudade, não é verdade?
    Uma pessoa fica umas semanas ausente, e quando regressa, tem muita leitura para por em dia…
    Vejo que ainda guarda os livros e cadernos que usava na escola. Estime-os, são relíquias.
    Das reguadas é que ninguém se esquece, lol… Eu também as apanhei, algumas vezes, por conta da Matemática, que nunca foi o meu forte.
    Mas valia o 4º ano de antigamente, por todos os anos de ensino de hoje em dia, essa é que essa…

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  2. João ,belas memórias e também boa memória . Os livros também guardei tipo relíquia ,mas os cadernos , só uns do liceu em que fiz uns desenhos que tive pena de não guardar .
    «Vesitas arraianas»
    Quina

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