terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Salvaterra e os mistérios da História

As Escolas


Certo dia, fartei-me de que os meus amigos de brincadeira, mais velhitos que eu, me deixassem e fossem “brincar” para um sítio que eles chamavam de escola. Até o meu irmão, logo de manhã, pegava na sacola com uns livros, uma ardósia onde com a piçarra (ponteiro) rabiscava umas coisas a que chamava letras, uns cadernos e também uma caneta onde punha uma pontinha metálica e brilhante, quando nova, a que chamava aparo e abalava, direito a essa tal escola.
E, diziam que eu não podia ir. Não estava certo! Também queria ir brincar com eles!
Mas, eu sabia onde eles estariam. Enchi-me de coragem e meti-me terra adentro. Da Quélhinha, em direcção às Caganchinhas, era um pulinho. Logo ao chegar ao forno do Pinheiro, ao fundo do Castelo, era só virar à direita e um pouco mais à frente virar à esquerda. Lá adiante, do lado direito, lá estavam elas, as Escolas (pois eram duas, uma para meninos e outra para as meninas, para não haver confusões). Uma vez lá chegado, o “famoso” João “Parralinha” fez saber que também queria ir brincar “às lições”. Aquilo devia ser bom, uma vez que lá estavam eles todos, os seu amigos da brincadeira. O espanto foi geral e a D. Emília, a professora, lá se encheu de paciência e, fazendo uso das suas melhores faculdades, tratou de mandar de volta o intruso. Diziam-me que eu não podia “brincar”, que ainda não sabia e que quando crescesse é que era. Porém, só conseguiram demover-me, dos meus intentos, com a prestimosa colaboração do meu irmão que se prontificou a ceder-me um aparo. Coisa linda! Dono de tal preciosidade, e pensando no dia em que também iria brincar como eles, lá me resolvi a voltar pelo mesmo caminho, direito a casa. O trânsito não era um perigo, a não ser que aparecesse algum macho desenfreado e, em casa, já alguém andaria preocupado com o meu sumiço!
Estávamos, então no ano da graça de 1944 e eu andava pelos meus 3 anos!

O meu irmão estava, nesta altura, na 4ª classe e quando entrou para a escola, em 1940, apenas andou 2 ou 3 meses nas instalações da escola velha, no edifício da Câmara!

No livro “Monografia de Salvaterra do Extremo”, da autoria do capitão Bargão, na página 44, pode ler-se:
“ A Casa da Câmara foi demolida em 1911 e no seu lugar se constituiu uma casa destinada às escolas oficiais de instrução primária que ficou a funcionar no rez-do-chão, ficando assim 3 salas, duas para o sexo masculino e uma outra para o feminino. Devido às más condições em que já se encontravam as Escolas foram em 1940 mandadas para os novos edifícios que o estado mandou construir no Alto do Forte”.
Ora, pelo que atrás ficou dito, tudo leva a crer que a construção destas escolas, tal como o Cruzeiro, ali bem perto, erguido no Alto do Forte, tenha sido ao abrigo dum qualquer plano de construções, do Estado Novo, para comemorar o chamado Centenário, ou seja, os 800 anos da nacionalidade.
Mas, há sempre um mas! Referindo-se à Casa da Câmara, a placa que em 2005 foi colocada no Pelourinho, reza assim:
“… Em 1911, o seu interior foi demolido, para aqui funcionar uma escola com três salas de aula, até 1945….”

Qual será a estranha razão para aqui aparecer o ano de 1945? É que tudo nos diz ser 1940!
Quem souber, que responda!

Pessoalmente, estas placas (há outra, junto ao Chafariz da Deveza) têm-me intrigado bastante, devido àquilo que julgo serem imprecisões.
De quem será a autoria de tais placas?

Nota: A foto das Escolas, foi retirada do livro do capitão Bargão. A foto da placa do Pelourinho, da autoria de Bruno Carreiro, a quem desde já agradeço, foi retirada do Facebook.

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